Meditações Pascais – 31 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Último dia

Domingo de Pentecostes

Domingo | 31 de maio de 2020

FICARAM REPLETOS DO ESPÍRITO SANTO (At 2,1-4)

A celebração de Pentecostes atualiza a efusão do Espírito Santo concedido em vista do anúncio do Evangelho. O Espírito leva à plenitude a obra que Jesus Cristo, Palavra eterna do Pai, anunciara; por isso os apóstolos começam a falar em línguas, conforme o Espírito lhes concede, a fim de anunciar que Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai. Já no Antigo Testamento o dom das línguas estava a serviço da manifestação salvífica de Deus. No Novo Testamento, o mesmo dom é concedido em vista do anúncio da Boa-Nova de Jesus (At 10,46).

São Paulo, no entanto, reconhece que, embora valioso, o dom das línguas deve estar subordinado ao carisma da profecia. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas. Justifica: “Aquele que fala em línguas, não fala aos homens, mas a Deus. Edifica-se a si mesmo. Aquele que profetiza, porém, fala aos homens… edifica, exorta, consola” (1Cor 14,3-4). E conclui: “Como vos serei útil, se minha palavra não vos levar nem a revelação, nem a ciência, nem a profecia, nem o ensinamento?… Se vossa linguagem não se exprime com palavras inteligíveis, como se há de compreender o que dizeis? Estais falando ao vento” (1Cor 14,6-9).

Um autor africano do século VI afirma que a unidade da Igreja fala todas as línguas: “Se, por acaso, alguém nos disser: Recebeste o Espírito Santo? Por que não falas em todas as línguas? Devemos responder: Eu falo em todas as línguas, porque sou membro do Corpo de Cristo, isto é, da Igreja, que se exprime em todas as línguas… Com o milagre de Pentecostes se prefigura a universalidade da futura Igreja, que haveria de abranger as línguas de todos os povos” (Homilia 8,1-3, Liturgia das Horas, sábado da 7ª semana do tempo pascal).

Paulo afirma, como vimos, que aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Qual o conteúdo dessa oração que brota do Espírito de Deus em nós? Que outra linguagem será senão a do amor, uma vez que Deus é amor? Que outros “gemidos inefáveis” o Espírito suscitará em nós e que não serão acolhidos por Deus a não ser aqueles ouvidos por Jahweh ao libertar seu povo do Egito? Como não ouvirá Deus os gemidos dos pobres ameaçados pelo extermínio, que sofrem as conseqüências daqueles que transformam o direito em veneno e o fruto da justiça em absinto, que falsificam as balanças para comprar o fraco com a prata e o indigente com um par de sandálias (Am 6,12; 8,5-6)?

Santo Antônio de Pádua comenta: “Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos outras línguas, quando os outros as vêem em nós mesmos. A palavra é viva, quando são as obras que falam… Feliz de quem fala conforme o Espírito Santo lhe inspira e não conforme suas idéias” (Liturgia das Horas, festa de Santo Antônio).

Com que outros gemidos o Espírito Santo falará em nós e por nós, ele que deseja a justiça, senão através dos apelos dos marginalizados esmagados pela pobreza generalizada, que leva os ricos a se tornarem cada vez mais ricos, à custa de pobres cada vez mais pobres, excluídos pelo materialismo individualista, pelo consumismo, pela deterioração dos valores da família, pela degeneração da honradez pública e privada, pelos problemas relativos à educação, à política e à economia (Puebla, 55ss).

São esses “gemidos inefáveis” que devemos elevar a Deus nosso Pai, pelo Espírito de Jesus Cristo. A essas preces Jahweh dá ouvidos, pois ele se levanta a favor dos pobres e oprimidos (Sl 5,1) e à sua presença chega o gemido do cativo (Sl 79,11). Jesus declara “benditos do Pai e possuidores do Reino” os famintos, sedentos, forasteiros, nus e doentes (Mt 25,34-36).

Também Maria, a “esposa mística do Espírito Santo”, falou com “gemidos inefáveis”, quando profetizou: “Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs poderosos dos seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53).

Cantemos, pois, ao Senhor um cântico novo, porque ele fez e faz maravilhas! Louvemos o Senhor, porque derramou seu Espírito em nossos corações! Ao cantarmos o canto novo, no entanto, fiquemos atentos à admoestação de Santo Agostinho: “Oxalá a tua vida não dê testemunho contra tuas palavras… Quereis cantar louvores a Deus? Sede vós mesmos o canto que ides cantar; sereis o seu maior louvor, se viverdes santamente” (Homilia 34, 3ª feira da 7ª semana do tempo pascal).

Elevemos a Deus “gemidos inefáveis” porque de tal modo somos plenificados pelo Espírito Santo no amor a Deus e aos irmãos, que não podemos calar. Todos acolherão nosso testemunho, pois o amor fala todas as línguas. Sem amor, a linguagem humana se torna babel, confusão, confronto, opressão.

Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis,
e acendei neles o fogo do vosso amor!

ORAÇÃO DE PENTECOSTES

Senhor Jesus Cristo,

envia sobre nós,

como prometeste,

teu Espírito Santo.

Que ele nos conceda a vida

e nos ensine a plenitude da verdade.

Que nele encontremos salvação,

felicidade, e plenitude de amor.

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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