Meditações Pascais – 29 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Sexta-feira | 29 de maio de 2020

TU ME AMAS MAIS? (Jo 21,15)

“Eu sou Jahweh, teu Deus, que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses, não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás” (Ex 20,2-5). Nosso Deus é um Deus ciumento: “Amarás a Jahweh, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Dt 6,5).

Deus em primeiro lugar: tudo o mais será dado por acréscimo. Não é possível servir a Deus e os bens materiais. O amor a Deus está acima dos afetos mais caros, das propostas mais atraentes, dos projetos mais ousados. Nada, ninguém nos deverá separar do amor de Deus em Cristo. Para o cristão viver é Cristo; por ele morrer é lucro. Tudo o mais é perda, esterco, ilusão.

Se a medida do amor é amar sem medida, “amar mais” é fazê-lo de modo exclusivo, sem cálculos, sem reservas. Amar até o fim, até não mais poder, até a cruz. “Sou apenas uma criança, dizia Teresa de Lisieux, incapaz, fraca; mas é minha fraqueza mesma que me dá a audácia de me oferecer como vítima ao teu amor, ó Jesus” (Conrado de Meester, De mãos vazias, Ep 1976, p. 102).

Amar os inimigos, rezar pelos que perseguem, oferecer a face esquerda a quem fere a direita, entregar a veste a quem pleiteia a túnica, andar duas milhas com quem obriga a caminhar uma, dar sem virar as costas a quem pede emprestado são atitudes de quem “ama mais”.

O “mais” faz a diferença entre um amor comum e o de predileção. Em sua primeira carta, João apresenta as fontes desse amor: o amor é de Deus, nasce dele, conhece Deus em profundidade. Deus-amor se manifesta, enviando seu Filho único para que tenhamos vida, e vida em abundância. Deus amou primeiro, gratuita e desinteressadamente. Se Deus assim nos amou, devemos nos amar uns aos outros. Deus permanece e atua naquele que ama. Não é possível amar a Deus, a quem não se vê, sem amar o irmão que se vê.

Amar a Deus em primeiro lugar, “amar mais”, é abaixar-se para lavar os pés do irmão, levantar-se para servi-lo, mesmo quando nos acorda durante a noite para pedir um favor. É deixar de lado julgamentos apressados e ofensivos, abandonar ódios, cóleras, invejas, sentimentos doentios que empobrecem a pessoa, tornando-a escrava do desamor. “Amar mais” é tomar iniciativa no perdão, oferecer ajuda, estender a mão, acolher, retirar obstáculos que impedem a propagação do amor. É dar a vida, como Jesus, que se esvaziou inteiramente para que todos pudessem se sentir amados. Quem “ama mais” surpreende sempre porque o amor é eterna surpresa, novidade, como Deus.

ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO

“Senhor!
Fazei de mim um instrumento da vossa paz!
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé.
Onde houver erros, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais
consolar que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.

Pois
é dando, que se recebe;
é perdoando, que se é perdoado;
é morrendo, que se vive para a vida eterna.
Amém!”

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