Meditações Pascais – 23 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Sábado | 23 de maio de 2020

SE PEDIRDES, O PAI VOS DARÁ! (Jo 16,23)

Todas as orações de todos os tempos alcançam seu ápice em Cristo; nele o Pai está mais próximo de nós e manifesta-se como o “Deus conosco”. Por Cristo, com Cristo e em Cristo podemos dizer: Pai-nosso!

Jesus insiste que peçamos com fé, pois tudo nos será dado (Mt 7,7; 21,22; Lc 11,9). Acima de tudo, é ele que nos mostra o valor da oração, a importância de rezar com confiança. Com Jesus aprendemos a adorar a Deus em espírito e verdade, e essa adoração somente tem valor enquanto se une à sua e é oferecida em seu nome.

Deus sempre está presente; sua presença, porém, só é percebida, e somente nos transforma, se oramos. A atuação divina é fonte permanente de vida e de luz. O Espírito Santo que confere sabedoria e gosto pela oração, torna-nos vigilantes à espera do Senhor e atentos aos sinais dos tempos, manifestações divinas no aqui e no agora da história. Por obra do Espírito Santo a oração integra fé e vida.

Deus nos amou por primeiro, antes que existíssemos, e nos chamou antes que déssemos o primeiro passo em sua direção. Para ele não ha acepção de pessoas (Rm 2,11). Ama a todos, sempre, sem medidas. Orar é, antes de tudo, graça, dom. A oração somente é possível porque ele atrai para a intimidade de seu amor. A participação nessa comunhão não pode ser exigida; é preciso pedi-la. Tudo provém de Deus, que nos reconcilia por meio de Cristo.

Jesus, ao dar sentido pleno à oração, nos ensinou a verdadeira atitude do orante. Não se deve orar como os hipócritas e os pagãos (Mt 6,5-7). O Pai ouve a prece feita em segredo, sem a preocupação de aparecer. Entra no segredo do coração, porque nada lhe está oculto. Sabe do que precisamos, antes mesmo que lho peça (Mt 6,8). Apresentamo-nos diante de Deus não porque nos consideremos dignos, mas justamente porque estamos conscientes de nossa indignidade. Somos todos publicanos diante do Senhor (Lc 18,9ss). Não estamos à altura de Deus. É preciso reconhecer o próprio nada e deixar que ele tome a iniciativa de nos exaltar.

O Pai-nosso não constitui somente a oração explicitamente ensinada por Cristo (Mt 6,9-13); foi ainda, e de modo particular, a oração do Filho de Deus feito homem. Nela, Jesus deixa transparecer sua intimidade com o Pai. No Pai-nosso encontramos o conteúdo essencial da sua oração.

Que devemos pedir? Há sempre o perigo de pedirmos sem saber o que é mais importante para nós, ou de pedirmos mal. O Espírito Santo nos ensinará a rezar, diz Paulo (Rm 8,26). Com toda a certeza podemos e devemos pedir a salvação para nós e para nossos semelhantes. Devemos implorar a perseverança para permanecermos irrepreensíveis até o dia do Senhor (1Ts 5,23).

Nosso pedido, no entanto, estende-se também aos bens materiais. Rezamos para consegui-los e bem usá-los. As dúvidas e os fracassos pelos quais passamos podem se transformar em instrumentos de progresso, inclusive espiritual. Não é preciso pedi-los; eles nos cercam cada dia. Freqüentemente, temos dificuldade em compreender o sofrimento como intervenção do amor de Deus; é preciso mergulhar na entrega total, como Jesus no Jardim das Oliveiras e na cruz. Em Cristo, todo sofrimento humano se transforma em redenção, em vida nova. “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

Exortando os irmãos da Fraternidade, René Voillaume insiste que é preciso ser permanente na oração (Fermento na Massa, Agir, Rio de Janeiro, 1963, pp. 169-185). Orar é estar totalmente disponível para Deus. Além da vida de oração, há necessidade de “momentos fortes”. Jesus foi permanente na oração, quer quando passava as noites em contato íntimo com o Pai, quer no dia-a-dia da pregação do Evangelho. Somente a fé dará sentido à oração. O melhor meio de desejar esse encontro com Cristo é buscá-lo efetivamente.

“Pedi e vos será dado” implica duas certezas: a primeira, que Deus deseja ser procurado, não porque não se preocupe conosco mas porque respeita nossa decisão. A segunda, que tudo nos será concedido, se pedirmos com fé. Tudo o que diz respeito à salvação Deus concede, talvez nem sempre do modo como pedimos, ou de acordo com o objetivo que nos propomos. Orar não significa exigir de Deus o que almejamos, mas acolher seu mistério, sua vontade.

SALMO 139

Senhor, tu me sondas e me conheces:
conheces o meu sentar e o meu levantar,
de longe penetras o meu pensamento.
Examinas o meu andar e o meu deitar,
meus caminhos todos são familiares a ti.
A palavra ainda não me chegou à língua,
e tu, Senhor, já a conheces inteira.
Tu me envolves por trás e pela frente,
e sobre mim colocas a tua mão.
É um saber maravilhoso que me ultrapassa,
é alto demais: não posso atingi-lo!

Livro: Padre Valter Maurício Goedert – Ele está no meio de nós – Meditações Pascais

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