Meditações Pascais – 22 de maio

Ele está no meio de nós

Padre Valter Maurício Goedert

Sexta-feira | 22 de maio de 2020

QUANTO A TI, SEGUE-ME! (Jo 21,22)

Estar no mundo sem ser do mundo; viver segundo o espírito e não de acordo com a carne; buscar as coisas do alto, deixando em segundo plano as coisas da terra; abandonar o homem velho para se revestir do homem novo: são algumas das muitas expressões neotestamentárias que exprimem a relação entre a vida presente e seus valores e a vida futura.

A Igreja primitiva vive particularmente essa “tensão” entre o “já” e o “ainda não”. Crê iminente a vinda definitiva do Senhor para restaurar o Reino. O autor da Carta a Diogneto resume essa mentalidade: “Os cristãos moram na própria pátria, mas como peregrinos; enquanto cidadãos, de tudo participam; porém tudo suportam como estrangeiros. Toda terra estranha é pátria para eles; toda pátria, terra estranha” (cap. V).

Os Santos Padres procuram relacionar ambas as vidas. Santo Agostinho comenta: “A Igreja conhece duas vidas, que lhe foram anunciadas por Deus; uma é vivida na fé, outra na visão. Uma, no tempo da caminhada; outra, na mansão eterna. Uma, no trabalho; outra, no descanso. Uma, no exílio; outra, na pátria. Uma, no esforço da atividade; outra, no prêmio da contemplação” (Tratado sobre o Evangelho de São João, sábado da 6ª semana do tempo pascal).

Na Idade Média, com a consolidação do “poder temporal” da Igreja, prevalece a sociedade cristã em forma de cristandade. A segunda vinda de Cristo se situa, então, no horizonte da história: é preciso trabalhar pela implantação do Reino, aqui e agora. Empenhar-se na construção da sociedade cristã é ser fiel à consumação do Reino, no futuro. No entanto, no próprio período medieval, a vida contemplativa floresceu nos mosteiros, nas ordens religiosas, nos diferentes movimentos leigos, mantendo a “tensão escatológica” da vida cristã.

Nos meados do século XX, a Constituição dogmática Lumen Gentium do Concílio Vaticano II dedica todo o capítulo VI à índole escatológica da Igreja, e afirma: “A era final do mundo já chegou até nós e a renovação do mundo foi irrevogavelmente decretada e, de um certo modo real, já antecipada nesta terra. Pois, já na terra, a Igreja é assinalada com a verdadeira santidade, embora imperfeita. Todavia, até que houver novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça, a Igreja peregrina leva consigo a figura deste mundo que passa, e ela mesma vive entre as criaturas que gemem e sofrem como que dores de parto até o momento presente, e aguardam a manifestação dos filhos de Deus” (LG 48).

Essa “tensão” está presente no mistério de Jesus Cristo: consubstancial ao Pai, e verdadeiro homem; Deus que revela, e Deus revelado; Filho de Deus, e filho do homem; Deus que ensina, e Deus por ele anunciado e nele reconhecido; Deus que fala, e o Deus do qual se fala; a testemunha, e o objeto do testemunho; autor, e objeto da revelação; revelador do mistério, e o próprio mistério revelado. A dupla natureza, divina e humana, traduzem bem a relação entre tempo e eternidade; entre vida na fé, e vida na visão; a sombra e a realidade plena.

Ação e contemplação fazem parte da vida cristã. Temos algo de Maria, e algo de Marta. Precisamos estar atentos aos ensinamentos do Senhor, obedientes aos seus pés, sem, contudo, deixar de prover as necessidades do dia-a-dia. Não se trata de fazer ora uma, ora outra coisa; constitui um único ato. A “escuta do Senhor” que não se traduz em “atenção ao irmão” não é autêntica contemplação. O atendimento ao irmão que não se alimenta da escuta da vontade de Deus não passa de filantropia.

Jesus ressuscitado inaugurou a união desses dois momentos. Jesus Cristo, como Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja, o Cordeiro imolado e glorificado, já está à direita do Pai como Senhor dos vivos e dos mortos. Em seu Corpo, a Igreja, continua, no entanto, percorrendo os caminhos da libertação através da história, até que Deus seja tudo em todos. Poderemos, então, afirmar como Paulo: “Tudo é vosso, vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (1Cor 3,22), e ouvir daquele que está sentado no trono: “Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

Vem, Senhor Jesus!

PASTOR DO REBANHO!

Senhor da messe e Pastor do rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos
o teu forte e suave convite: “Vem e segue-me!”
(Mt 19,21c).
Derrama sobre nós o teu Espírito;
que ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir a tua voz.
Senhor, que a messe não se perca por falta de
operários.
Desperta as nossas comunidades para a missão.
Ensina nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao reino
na vida consagrada e religiosa.
Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores.
Sustenta a fidelidade de nossos bispos, padres
e ministros.
Dá perseverança a nossos seminaristas.
Desperta os nossos jovens
para o ministério pastoral em tua Igreja.
Senhor da messe e Pastor do rebanho,
chama-nos para o serviço do teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder “sim”.
Amém.

Dom Afonso Niehues

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