Cores e diversidade na chamada “Parada Gay”
Numa expressão de cores e diversidade a chamada “Parada Gay” tornou-se um evento que chama a atenção em várias cidades onde é realizado. A sensibilidade pela “causa gay” é também causa da mídia, que além de defendê-la, busca promovê-la nas telenovelas, nas propagandas publicitárias e eventos. Sem dúvida há muitos passos para a superação da homofobia. Mas diante do evento de ontem em São Paulo e a indignação que li em alguns comentários, surge uma pergunta: será que a “cultura gay” não está sendo demasiadamente forçada por alguns setores?
Tenho algumas considerações:
1. Não se defende uma causa quando se joga com a própria dignidade. A palavra Gay é um anglicanismo que significa modo de viver “alegre” em referência aos que exerciam a prostituição masculina. Depois foi adaptada como acrônimo de “Good As You” (bom como você). Tanto uma quanto outra fazem referência a uma reinvindicação pública da “alegria” ou “orgulho” de ser homossexual. A Parada Gay constitui-se nessa missão de transformação cultural para que se passe da homofobia à valorização e respeito da diferença e aceitação da vida enquanto tal. Infelizmente a ênfase midiática está mais nos aspectos polêmicos, como a utilização de símbolos sagrados e a exposição desrespeitosa do corpo, gerando em muitos setores mais rejeição que uma consciência da dignidade humana independente de sua opção sexual. A dignidade diz respeito ao outro e a si mesmo.
2. Vivemos numa cultura do relativismo. Tudo o que se considera como um valor sagrado ou absoluto é questionado. A utilização de símbolos sagrados, como ocorreu na última edição da Parada Gay em São Paulo, fere o sentimento religioso e cultural de pessoas que depositam em tais símbolos não apenas a fé, mas também o afeto, o carinho e o respeito. É ofensivo apropriar-se de tais símbolos e utilizá-los com fins provocativos.
3. O uso e abuso da liberdade de expressão. A liberdade de expressão é um direito que custou a vida de muitas pessoas. Os direitos são absolutos, não a liberdade. Há um limite para a liberdade de expressão, e este limite se chama dignidade, honra. É diferente da manifestação artística, que sem dúvida também se faz presente na Parada. É preciso fazer uma distinção entre manifestação artística e abuso da liberdade, pois quem pode dizer onde acaba a provocação e começa a ofensa? O fato de algo seja legal não significa que seja moral.
4. A ditadura do pensamento único. Assim como ocorre no campo político, também em outros aspectos prevalece uma corrente de pensamento ditatorial. Somos obrigados a aceitar certos produtos culturais sem questioná-los. Uma coisa é respeitar, por exemplo a Parada Gay, outra é aceitar todo o pacote cultural incluído nesse evento. Dizer que discordo de determinados aspectos não me fazem ser homofóbico como a mídia apresenta. Chama-se direito de dissidência: direito a dizer não.
Talvez eu seja um tanto anacrônico quanto à Parada Gay. Acho que há outros caminhos menos ofensivos, mais dignificantes e até mesmo mais eficazes quanto à dignidade dos homossexuais.
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Missionário claretiano, nasceu em Ceres-GO aos 15 de fevereiro de 1987. Ingressou no Seminário Menor da Congregação dos Missionários Claretianos em Pouso Alegre-MG no ano 2002, cursando o Ensino Médio. Entre os anos 2005 e 2007 cursou Filosofia nas Faculdades Claretianas de Batatais-SP. Fez o noviciado na cidade de Cochabamba-Bolívia, onde emitiu os Primeiros Votos Religiosos no ano 2009. Entre os anos 2009 e 2013 cursou Teologia no Studium Theologicum de Curitiba-PR, sendo que em 2011 fez uma experiência apostólica em Moçambique. Foi ordenado presbítero no ano 2014 e destinado a trabalhar na cidade de Contagem-MG como vigário paroquial e auxiliar de formação. Entre 2015 e 2017, estudou Teologia Pastoral na cidade de Madri. Permaneceu como pároco em nossa comunidade de 2019 a 2023. Atualmente é o Superior Provincial dos Missionários Claretianos no Brasil.
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