Dia Internacional da Mulher: celebrar, refletir e acompanhar

Celebramos hoje o Dia Internacional das Mulheres. Não poderia deixar de refletir e rezar por todas vocês que dão vida à nossa comunidade. No templo de nossa paróquia preside, no altar-mor, o altar principal, a imagem de uma Mulher, com um coração visível e, portanto, aberto para acolher a nossa súplica. Mais acima, na cúpula, há também uma pintura com uma Mulher no centro, exatamente no centro da comunidade trinitária, uma imagem que fala por si mesma. Nossa paróquia é casa de uma mulher, o Coração de Maria.

Por isso, podemos dizer que nossa comunidade tem rosto e coração feminino. E também mãos femininas. A presença feminina está em todas as pastorais e movimentos, são incansáveis missionárias do Evangelho. Ainda assim, acredito que a Igreja precisa caminhar para que a voz feminina tenha mais protagonismo.

Não poderia deixar de chamar a atenção para um grave problema presente em nossa sociedade: a violência contra as mulheres e o crescimento do feminicídio. Como Igreja, é preciso que alcemos nossa voz contra esse tipo de violência presente em tantos lares e relacionamentos.

Como Igreja, estamos em uma situação privilegiada para ajudar as vítimas de violência doméstica, mas também de causar danos, se somos negligentes. Para isso, gostaria de partilhar alguns pontos que os bispos da Nova Zelândia, em 1992, pediram aos agentes de pastoral:
– levar a sério o que essa mulher está partilhando conosco;
– evitar soluções simplistas e espiritualizações falsas do problema;
– evitar o mau uso da Escritura em qualquer modo em que pudesse parecer justificar de algum modo a dominação masculina;
– estar informados dos recursos disponíveis na comunidade (em Curitiba, por exemplo, temos a Casa da mulher Brasileira com acolhimento e apoio psicossocial) e saber como e quando derivar as pessoas para receber ajuda especializada;
– preparar-se para enfrentar profundos questionamentos espirituais que surgirão no referente à relação da mulher com Deus e sobre seu valor e dignidade como pessoa;
– criar uma atmosfera na paróquia em que leigos e clero possam discutir sobre a violência contra a mulher de forma aberta e honesta;
– fazer de cada igreja um lugar seguro em que as vítimas podem encontrar ajuda, na linha da grande tradição da Igreja como lugar de asilo;
– assegurar-se de que nas homilias seja abordado o tema da violência doméstica; se as mulheres que sofrem abuso não ouvem nada sobre isso, pensam que ninguém se importa com o que acontece com elas;
– aproximar-se da mulher maltratada, cuidar nossa linguagem, não dizer nada que pudesse fazer-lhe acreditar que a culpa é dela e que depende de sua conduta;
– cuidar especialmente dos cursos de preparação ao matrimônio: tratar temas como os métodos de resolução de problemas, o modo de lidar com as diferenças…
– identificar publicamente a violência doméstica como pecado grave.

Acredito que esses pontos podem nos ajudar a tratar com seriedade e eficácia o problema da violência contra a mulher, pois como diz o Papa Francisco “não se acabou ainda de erradicar costumes inaceitáveis; destaco a violência vergonhosa que, às vezes, se exerce sobre as mulheres, os maus-tratos familiares e várias formas de escravidão, que não constituem um sinal de força masculina, mas uma covarde degradação. A violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres em alguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal.

Penso na grave mutilação genital da mulher nalgumas culturas, mas também na desigualdade de acesso a postos de trabalho dignos e aos lugares onde as decisões são tomadas. A história carrega os vestígios dos excessos das culturas patriarcais, onde a mulher era considerada um ser de segunda classe, mas recordemos também o «aluguel de ventres» ou «a instrumentalização e comercialização do corpo feminino na cultura midiática contemporânea». Alguns consideram que muitos dos problemas atuais ocorreram a partir da emancipação da mulher. Mas este argumento não é válido, «é falso, não é verdade! Trata-se de uma forma de machismo»” (AL 54)

Mais uma vez, em nome da Paróquia Imaculado Coração de Maria, obrigado por serem testemunhas da fé. O sim de cada uma de vocês é uma riqueza imensurável para nossa Igreja.

Pe. Eguione Nogueira Ricardo, cmf
Pároco

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Padre Eguione Nogueira

Missionário claretiano, nasceu em Ceres-GO aos 15 de fevereiro de 1987. Ingressou no Seminário Menor da Congregação dos Missionários Claretianos em Pouso Alegre-MG no ano 2002, cursando o Ensino Médio. Entre os anos 2005 e 2007 cursou Filosofia nas Faculdades Claretianas de Batatais-SP. Fez o noviciado na cidade de Cochabamba-Bolívia, onde emitiu os Primeiros Votos Religiosos no ano 2009. Entre os anos 2009 e 2013 cursou Teologia no Studium Theologicum de Curitiba-PR, sendo que em 2011 fez uma experiência apostólica em Moçambique. Foi ordenado presbítero no ano 2014 e destinado a trabalhar na cidade de Contagem-MG como vigário paroquial e auxiliar de formação. Entre 2015 e 2017, estudou Teologia Pastoral na cidade de Madri. Permaneceu como pároco em nossa comunidade de 2019 a 2023. Atualmente é o Superior Provincial dos Missionários Claretianos no Brasil.

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